Em extinção

Ao que parece, actualmente, existem "apenas" 20.000 a 25.000 ursos polares vivos a deambular pela calote.

Hoje, o governo dos EUA propôs a sua classificação como espécie ameaçada, reconhecendo pela primeira vez o aquecimento do clima como um factor que poderá contribuir para o desaparecimento daqueles mamíferos.

Sinceramente, por mais anúncios que se façam com ursos a beber Coca-Cola, para mim, 20.000 ursos já são ursos a mais. Já que estamos por aqui, também acho que os golfinhos e as baleias são sobrevalorizados e que já ninguém aprecia suficientemente (como faziam os egípcios) o Geotrupes stercorarius.

No entanto, uma vez que há tanto interesse em salvar os ursos (e porque eles também são enteados do Senhor), deixo aqui a minha contribuição.

Que tal, se se instituisse um Rendimento Social de Inserção para o Urso Polar?
Em Portugal, alguns estudos científicos comprovam que, desde a criação do famigerado RSI, a taxa de natalidade aumentou nos humanos. Os investigadores observaram que, após um determinado número de horas sem nada para fazer, a coçar nas virilhas, os sujeitos tendem a sentir uma crescente estimulação e a desenvolver um voraz apetite sexual, provocando uma procura imediata de parceiro(a) para procriação.
Além deste estímulo primário observado, os cientistas sugerem um mecanismo secundário de recompensa, associado ao acréscimo de apoio financeiro que se verifica com o nascimento de cada nova cria.

A medida poderia ser aplicada, a título experimental, a uma população restrita e, posteriormente, ser alargada consoante se verificasse a sua eficácia.
Deixo aqui a sugestão ao governo norte-americano - uma vez que a referida proposta surgiu deste país - para a implementação da medida no seu estado do Alaska, onde se estima que existam cerca de 4.700 indivíduos (refiro-me aqui a ursos polares).

O Arco-íris (adenda)

Em conversa com uma leitora, decidi clarificar o raciocínio subjacente ao post anterior:

"Após alguns segundos de reflexão, conclui que, sem sombra de dúvida, o Sr. Maravilha [nascido e criado na América do século XX] deve conhecer bem a diferença entre o branco e o preto."

O Arco-íris

Ontem à noite fiz uma descoberta infantil, enquanto trauteava, casualmente, uma canção do Sr. Paul McCartney, interpretada pelo Sr. Stevie Wonder: "Ebony & Ivory".
Descobri que este último é cego! Tanto quanto sei, desde nascença. Pelo que não deverá ter noção das cores... (!?) Automaticamente, imaginei que o dito senhor não acomodasse uma verdadeira concepção da diferença entre as cores do marfim e do ébano.

Após alguns segundos de reflexão, conclui que, sem sombra de dúvida, o Sr. Maravilha deve conhecer bem a diferença entre o branco e o preto.

"Ebony and ivory
Live together in perfect harmony
Side by side on my piano keyboard,
Oh lord, why dont we?"

Sobre a economia

Não faz muito tempo que um voo doméstico de duas horas, operado pela Transportadora Aérea Portuguesa, incluía como direito adquirido (mais ou menos como aqueles que hoje em dia caem como moscas) uma refeição quente com acompanhamento, precedida de pãezinhos igualmente quentes e uma tacinha de salada. O repasto (acho que hoje já é digno deste nome) podia ser apreciado com talheres de metal que, além de serem ideais para praticar um sequestro, davam um outro sabor ao ritual. O tabuleiro vinha ainda povoado por uma daquelas pequenas embalagens de manteiga (ou Camambert), chávena para café, um copito para sumo e um toalhete molhado. Qual Kasparov, entretinha-me a deslocar estrategicamente todas estas peças sobre o tabuleiro, numa luta contra o espaço exíguo duma classe económica. O jogo estava ganho à partida. E a quem interessa se, à segunda-feira, a mesma empresa de catering responsável pelo copo-d’água servia aos recém-casados em lua-de-mel os excedentes reaquecidos da boda?

Hoje regozijamo-nos com o excelente (?) desempenho económico da TAP. Orgulhamo-nos todos da saúde financeira da nossa transportadora nacional.
Hoje também sabemos o verdadeiro significado da expressão “classe económica”. Lá está o copito de sumo de antigamente, e a chávena para café, mas temos que nos contentar com uma sanduíche fria, com sabor ao plástico da embalagem.
Diz-se que algumas companhias aéreas terão poupado milhões de dólares, simplesmente porque retiraram uma azeitona a cada refeição. Não sei se é mito ou realidade, mas parece-me que não está longe o dia em que me será servido um saquinho de amendoins ou de azeitonas por refeição. “Deseja pretas ou verdes, senhor?”

O que move o Mundo não é o dinheiro, o ouro, ou o petróleo...
Não é o ódio, ou o poder...
Nem é o sexo, ou o amor...
O que move o Mundo é a morte.

Sobre a competição...

A competição é uma Coisa muito saudável!
Não, não me refiro apenas a eventos desportivos, ou à competição no mundo empresarial (menos monopólios, preços mais baixos, melhor para o consumidor, blá, blá, blá). Nada disso!
Refiro-me à competição nas relações amorosas.
Tomemos Adão e Eva como exemplo: Considerando que foram o primeiro casal a vir ao mundo – façam-me o obséquio, e vamos lá considerar o texto sagrado em sentido literal – deve ter sido muito complicado não haver competição.
Estou aqui a imaginar o Adão, encostado à árvore do conhecimento, a ler o seu papiro (com as últimas do paraíso e uma entrevista em profundidade com Deus Pai Todo-Poderoso, sobre o processo da Criação), enquanto a Eva se lhe dirige com aquelas perguntas clichés: “Adão… Diz-me! Esta parra fica-me bem? Não achas que me faz parecer gorda?”
É claro que o Adão podia fazer o máximo por convencer a Eva que ela estava deslumbrante, maravilhosa, perfeita. Mas uma frase do tipo “És a mulher mais linda que eu já vi!” nunca surtiria o efeito pretendido, por razões óbvias. Aliás, o Adão nunca poderia justificar ter escolhido Eva para sua companheira, pelo simples facto de que não havia escolha!
Aqui é que entra a competição. Com mais uma ou duas fêmeas da espécie por ali à solta, o varão – não só poderia deliciar a vista com mais do que algumas gazelas, javalis e outros enteados do Senhor – como poderia exercer o seu poder de escolha, legitimando a sua relação com a mãe de todos nós. Ou seja, após alguma instabilidade inicial que a Coisa pudesse causar, o resultado deveria ser mais genuíno.

Sobre tudo isto, o mesmo se diga em relação a Eva. Devia ser muito aborrecido não poder escolher outro homem, e ter que se sujeitar a ficar com um preguiçoso que passava os dias encostado pelas árvores a ler papiros.
Talvez tenhamos descoberto o que motivou Eva a comer o fruto proibido: “Quem sabe, Do lado de fora…?”

Livro de Reclamações

Se há alguma Coisa mesmo cativante nas grandes superfícies é o facto de se poder reclamar livremente.
O atendimento personalizado do comércio tradicional torna as reclamações personalizadas. Se não, tentem pedir o livro de reclamações no barzinho da esquina, onde vão todos os dias tomar a dose diária de cafeína. Passam a ter um atendimento especial, que pode ir desde uma expressão exclusiva de raiva (só para vocês, porque os outros clientes continuam a ser cumprimentados com o sorriso habitual) à inclusão de pequenas porções de saliva na vossa sandes mista matinal.

O tratamento impessoal das grandes superfícies permite-nos dizer «'Tou-me a cagar!», sempre que alguém não corresponde às nossas expectativas de serviço. É claro que a pessoa que está do outro lado do balcão também está mais liberta para fazer o mesmo. Mas uma carta ao Instituto de Defesa do Consumidor, ou à Deco, não traz tantos perigos ou receios de represálias. Até porque, com alguma sorte, na próxima vez que formos lá, o empregado com quem tivemos a divergência já estará no desemprego e em seu lugar estará de novo uma cara sorridente (com um mundo de novas possibilidades).
Pior que uma má ideia é a sua imitação.
[reacção a um carro tunning]

...pública, a Coisa pública.

Hoje em dia (e talvez não só) anda muita gente por aí preocupada com a Coisa pública (poderia agora, facilmente, cair na brejeirice de afirmar que anda nas bocas do povo, ou no trocadilho fácil da Coisa pública pela Coisa púbica, mas se era isso que esperavam, não contem comigo... Não senhor!).
Há quem dela fale como se fosse sua, arrogando-se o direito a decidir o que lhe fazer... Esquecendo, porventura, que é pública.
Vemos, frequentemente, quem se monte em cima dela, qual cowboy (desculpem mas não consigo escrever "cobói", blargh!) num rodeo, tentando domar o seu poder, para depois poder dizer aos netinhos "xabem, quando era novo, o avôjinho aguentouxe durante xinco xegundos em xima do Inxtituto Geral de Qualquer-Coija".
Há muito quem a queira levar para casa, em pequenas porções diárias do tipo "dose diária recomendada", ou para o estrangeiro, em bonitos embrulhos azuis.
Bem menos, há quem a privatize em grandes operações legais...
Se existe algo de comum em todos estes exemplos, é que todos a despem da sua essência: A Coisa pública não é privada.
(1-0, ganha Msr de La Palice)

... e ao sétimo dia descansou.

Qualquer Coisa que se preze começa com uma inauguração.

Nas inaugurações das coisas há sempre um Exmo. Sr. Qualquer-Coisa que anda práli todo pipi, de fatinho, com uma talocha na mão, a fazer de contas que coloca o primeiro bloco. Isto sempre seguido (ou precedido) de um discurso sobre a Essência da Coisa.

Bom, aqui não há Exmo. Sr.!
... mas podemos considerar isto o início da obra.
Quando à Essência da Coisa... temos muito tempo para isso.
Hoje ficamos por aqui...
Afinal, amanhã é Sabbath!