Sobre a economia

Não faz muito tempo que um voo doméstico de duas horas, operado pela Transportadora Aérea Portuguesa, incluía como direito adquirido (mais ou menos como aqueles que hoje em dia caem como moscas) uma refeição quente com acompanhamento, precedida de pãezinhos igualmente quentes e uma tacinha de salada. O repasto (acho que hoje já é digno deste nome) podia ser apreciado com talheres de metal que, além de serem ideais para praticar um sequestro, davam um outro sabor ao ritual. O tabuleiro vinha ainda povoado por uma daquelas pequenas embalagens de manteiga (ou Camambert), chávena para café, um copito para sumo e um toalhete molhado. Qual Kasparov, entretinha-me a deslocar estrategicamente todas estas peças sobre o tabuleiro, numa luta contra o espaço exíguo duma classe económica. O jogo estava ganho à partida. E a quem interessa se, à segunda-feira, a mesma empresa de catering responsável pelo copo-d’água servia aos recém-casados em lua-de-mel os excedentes reaquecidos da boda?

Hoje regozijamo-nos com o excelente (?) desempenho económico da TAP. Orgulhamo-nos todos da saúde financeira da nossa transportadora nacional.
Hoje também sabemos o verdadeiro significado da expressão “classe económica”. Lá está o copito de sumo de antigamente, e a chávena para café, mas temos que nos contentar com uma sanduíche fria, com sabor ao plástico da embalagem.
Diz-se que algumas companhias aéreas terão poupado milhões de dólares, simplesmente porque retiraram uma azeitona a cada refeição. Não sei se é mito ou realidade, mas parece-me que não está longe o dia em que me será servido um saquinho de amendoins ou de azeitonas por refeição. “Deseja pretas ou verdes, senhor?”

Sem comentários: